MANIFESTO DO AGITPROP DA U.J.C.
“Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grandes Guerras, não tivemos a Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é nossas próprias vidas. Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seriamos ricos, estrelas de cinema ou rock stars. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso. E estamos muito, muito revoltados.”
Tyler Durden – Clube da Luta.
☭ Nos encontramos no auge da era da informação e da comunicação, acompanhada por uma crise pós-moderna, conseqüência da civilização industrial e do fracasso da economia mundial sustentada no lucro e na acumulação de riqueza, em detrimento da condição humana e dos seus direitos.
☭ O mundo ocidental é governado por estados entregues a grandes corporações, cujo único objetivo é o lucro, englobando as grandes empresas de comunicação, colaboradoras na constante manipulação das massas consumidoras com o objetivo de manter a população afastada da arena pública, ocupando-a com trivialidades, com “ópios”, na qual os jovens participam a todos os níveis como consumidores em potenciais.
☭ Cabe a nós, militantes, comunistas, estudantes, trabalhadores materializadores do pensamento marxista, maquiladores dos estudos e todo acumulo de conhecimento, repensarmos o nosso papel social de revelar as mazelas e contradições desta sociedade. Cabe-nos, igualmente a nós, questionar de que modo podemos ou deveremos insurgirmo-nos nesta (des)ordem mundial.
☭ Está nas mãos desta jovem disciplina decidir o caminho do seu crescimento, as suas cumplicidades, os seus objetivo e as suas decisões. O AGIT-PROP, conversor de idéias em matéria visual, deve agora, no início do milênio, e ainda nesta fase tão inicial, ponderar o seu papel e determinar a sua função nesta aparente crise global. O projeto da modernidade incumpriu-se nos seus propósitos ao permitir a consubstanciação de mecanismos de exclusão que são, eles próprios, a sua essência. Assim, persistimos num mundo dividido: de um lado uma maioria que luta pela sobrevivência, do outro lado a riqueza é acumulada por uma pequena minoria.
☭ O AGIT-PROP de nossas brigadas nasce graficamente da consideração de que a comunicação funciona como vetor nesta nossa sociedade da informação e é a forma de equalizar e amplificar nossas denuncias de um mundo dividido entre o mundo ocidental e o mundo subdesenvolvido, como um mundo que diverge entre elite e massas, entre a riqueza e opulência frente a pobreza e a miséria, entre hegemonia e o subvalorizado, entre o visível e o invisível…
☭ Neste sentido, as ações de AGIT-PROP representará a nulidade matemática entre dois lados de um problema, esta materializada, assim, na sua função de substituição de outros elementos de comunicação. Em termos cromáticos e estéticos, assume a contraversão e a intervenção urbana, por dois motivos predominantes: primeiro pela força visual de impacto que essas intervenções no visual urbano provocam (o que é um elemento fundamental para o impacto prático exterior da identidade de nossa luta), a par da simplicidade da sua forma gráfica que o torna facilmente memorável e segundo, por serem em prática palavras de ordem, textos duros e diretos livres de possíveis conotações.
☭ A ausência de textos políticos é um fato essencial, na medida que cria mais expectativa, incógnita e mistério, por não permitir uma leitura óbvia, não ter um nome ou título, causando no público um efeito de diversificação de significados – são as pessoas que lhe dão nome, dando força as suas interpretações pessoais, para algumas pessoas serve de comparação entre aquilo que se lê e aquilo que se vive no dia a dia!
☭ Deste modo, juntando o fato do seu caráter subversivo – a facilidade com que é memorizado os textos, juntamente com o fato de estar “aqui e ali”, onde menos se espera, ao virar da esquina ou no automóvel de alguém – com a sua indefinição lingüística ou com a sua finalidade, torna-o muito mais apelativo e digamos de um modo pragmático, mais funcional de se fazer o AGIT-PROP.
☭ O AGIT-PROP afirma-se como a substituição contra a repetição sistematizada da informação mercantil e corporativista, assim como contra a sua falta de substância das propagandas políticas proselitistas.
☭ Num mundo em que o mercado e o corporativismo ameaçam cada vez mais os direitos fundamentais do Homem, devemos questionar de forma consciente, qual a nossa posição e quanto iremos contribuir para a sua continuidade.
☭ Em grande parte, a própria cultura artística de rua, que ajudou a construir a linguagem visual está direcionada para a comunicação doutrinária, da face mais negra e hipnótica do mercado, da sua falsa e enganadora imagem! E o velho poder de absolvição capitalista que colocou a contracultura marginal do grafite no Louvre. Faremos parte dessa elite culta, apática que ensina e prolifera em prol da manutenção/preservação do capital, superior, pequena burguesa?
☭ Metaforicamente, podemos afirmar que o papel de embrulho das mudanças que queremos na nossa sociedade será criado por nós, ou seja, concebemos as imagens e textos que criarão as atitudes de inquietação frente a realidade.
☭ Mas até que ponto nos poderemos insurgir ou fazer parte de uma dissidência comunicativa? Sem cair na irrelevância artística ou na marginalidade vulgar de depredação. Parece ser aqui que reside o paradoxo da nossa disciplina: o design, a propaganda surge, em termos latos, para vender, para taxar, para frear a reflexão…
☭ Os métodos e práticas do projeto procuram afirmá-lo como a substituição contra a repetição sistematizada da informação mercantil e corporativista, assim como contra a sua falta de substância e sensibilidades. As marcas não têm conteúdo, não vendem produtos nem necessidades físicas, vendem fantasias, imagem e necessidades psicológicas, mediaticamente impostas. Assim, o AGIT-PROP – assume identidade criada – mas, não como objetivo gravar sua identidade na ação de propaganda, o AGIT-PROP promovido por nos garante as intenções de causar inquietação, denunciar e essa intenção jamais deve ser superada pelo próprio AGIT-PROP, ou pelo próprio grupo que o promove, não sendo criador de status a partir do valor social ou artístico das marcas ou artes como acharem melhor.
☭ A sobreposição sobre os objetos, colagem, pixação, etc... é uma maneira de fazer frente aquilo que é vital ao mercado, o espaço e divulgação – como a publicidade, o dinheiro, a comunicação doutrinária (media essencialmente capitalista) ou mesmo o espaço público – será um dos principais objetivos. Outro objetivo a referir será, utopicamente, substituir o que consideramos a identificação gráfica superficial, a favor do mercado, toda aquela que contribui para a distinção social, artística, por tanto elitista. DEFINITIVAMENTE NÃO SEREMOS DE UMA CLASSE ARTISTA.
☭ O AGIT_PROP tem como eixo central, além da própria propaganda, fazer com que a pessoa que se depare com os cartazes, lambe-lambe, stickers, stencil, promova algum tipo de integração entre as pessoas e o meio, motivado pelo interesse fenomenológico das reações de um público alargado em locais que corriqueiramente jamais lhes permitiria qualquer tipo de reflexão, indagação ou debate. Os cartazes serão arrancados, as pessoas questionarão o seu significado, e tudo isso será interessante.
☭ Na mídia em geral, altamente elitistas, só se expressa quem tem dinheiro – o mercado e o sistema de doutrinação, que possuem o controle de toda a mídia – tornam suas opiniões em “notícia”. O AGIT-PROP é a terceira via uma alternativa de travar uma guerra de informações, mas no nosso terreno, nos subterrâneos da sociedade, nas ruas, nos ônibus, nos pontos de ônibus, dentro e nas estações do metro, aonde os “bacanas” não costumam andar. Na generalidade a propaganda é um veículo de informação essencial na nossa sociedade, a sua interpretação e assimilação devem ser cuidadas e atentas e na maioria das vezes reinterpretadas, mas é um excelente meio para transmitir mensagens, pois é uma fonte, socialmente “credível”, por se valer de imagens e textos de impacto e tem uma influência determinante nos comportamentos, nas discussões, nas preocupações e nas distrações dos cidadãos. É preciso se fazer ouvir, não temos a ilusão e nem a pretensão de mudar a consciência coletiva das pessoas, sabemos dos bônus e ônus que nossas ações trarão, sabemos que flertamos com a criminalidade e ilegalidade, estamos cientes de nossas ações, mas a necessidade que se faz diante de toda inércia e apatia generalizada, damos de ombros ao bom senso burguês que defende uma fachada ou um muro com tanto afinco e ignora todas as mazelas sofridas pela grande população, pobre e trabalhadora, na verdade não estamos fazendo a revolução, estamos só dando um cutucão em uns e mandando um recado para outros.
QUER OUVIR UMA PALAVRA DE ESPERANÇA? MOBILIZAÇÃO!
QUER OUVIR UMA PALAVRA DE CONFORTO? ESQUEÇA...